quinta-feira, 11 de novembro de 2010

APONTAMENTOS SOBRE A NOSSA TERRA

Uma viagem às origens da freguesia de Turquel


TRADIÇÕES – O “Dia do Pão Por Deus” é comemorado no 1.º dia de Novembro pela pequenada e não só. Logo pela manhã, as crianças saem à rua juntando-se em pequenos grupos e entusiasticamente vão de porta em porta, com sacas de pano, pedindo bolinhos (as deliciosas “merendeiras doces” com passas e nozes é um produto típico da quadra), frutos secos e outras boas guloseimas. Também nesse dia (e no dia seguinte “Dia de Finados”) é a altura da romagem ao nosso cemitério, todo ele bem engalanado com lindas flores, para honrar, velar e lembrar os ente queridos que infelizmente já partiram no tradicional “Dia de Todos os Santos” / data religiosa. Já na véspera de feriado, dia 31 de Outubro, realizou-se um baile denominado “Noite Halloween” com LF Music no Salão Mira Serra em Louções que assim festejou a “Noite das Bruxas” especialmente apreciado pelos mais novos. No dia 11 de Novembro celebrou-se o “Dia de São Martinho” sendo o magusto o ponto alto das festividades, entre grupos de amigos e familiares que se juntam à volta de uma fogueira, onde se assam castanhas e se bebe água-pé ou vinho novo, em clima de alegre confraternização. Pois como reza a tradição: “em dia de S. Martinho comem-se castanhas e prova-se o vinho”! Mantendo vivas as nossas mais genuínas tradições populares, devido à partilha dos costumes que passam de geração em geração, mais uma vez assim aconteceu e ainda bem pelas nossas aldeias para grande animação de toda a comunidade.

HISTÓRIA – Turquel foi uma das 13 vilas dos Antigos Coutos de Alcobaça. Foi cabeça de Concelho, teve a 1.ª Carta de Povoação em 1314, dada por Frei Pedro Nunes e foral 200 anos depois, concedido por D. Manuel I, o chamado Foral Novo (1514). A vila chamava-se então Villa Nova de Turquel. No entanto, nos tempos pré-históricos foi povoada, pois têm-se encontrado na zona objectos do período neolítico, cobre e do bronze. Existem ainda grutas pré-históricas, das quais as mais importantes são a Casa da Moira, Cova da Ladra, Algar do Estreito, Algar de João Ramos e Buraco do Moniz. Ainda há a salientar sepulturas do período do bronze e antas como a da Batarba, no sítio de Pedras das Antas. O antigo concelho de Turquel compreendia a freguesia do mesmo nome e a parte oriental da freguesia da Benedita. A Câmara tinha 2 juizes ordinários e 2 vereadores. Além destes funcionários, havia o procurador do concelho, o almotacé, o alcaide da vara, o alcaide carcereiro, o escrivão da Câmara, tabeliães de notas e do judicial, etc. Para manter a ordem pública havia a “Companhia da Ordenança da villa de Turquel e seu termo”. A vila de Turquel com o seu termo, pertencia antigamente à paroquial de Santa Maria de Aljubarrota, diocese de Lisboa. Por ficar muito longe desta paróquia, o povo solicitou em 1528, provisão do comendatário do Mosteiro de Alcobaça - O Cardeal Infante D. Afonso - para ter na vila uma capela feita à suas próprias custas, o que obteve deferimento. Assim, em 1528, erigiu-se uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, logo convertida em paróquia. Passados alguns anos, o Cardeal Infante D. Henrique desmembrou-a de Aljubarrota. O concelho de Turquel foi extinto pouco depois da abolição das ordens religiosas. O passado deve continuar a ser lembrado pois é a história da nossa terra!

TURISMO – Em Turquel, três monumentos merecem destaque como pontos de interesse e motivo de atracção. É o caso da Igreja Matriz da Senhora da Conceição, da Capela do Senhor Jesus do Hospital e da Capela de Santo António. A Igreja de portal manuelino em arco abatido com as armas do cardeal Rei, tem uma pia baptismal e duas de água benta quinhentistas. O pelourinho manuelino é dos mais emblemáticos dos coutos de Alcobaça. Bem perto da Serra dos Candeeiros, encontra-se a Quinta de Vale dos Ventos, que pertenceu aos monges de Cister. Era considerada uma granja modelo no século XVIII , já que ali se produzia “o melhor e mais claro mel de Portugal”, segundo a tradição, como refere o “Roteiro Cultural da Região de Alcobaça”. Enfim coisas para descobrir que não se devem perder!



GEOGRAFIA – Fernando Alvares Seco, é o autor e responsável do 1.º mapa impresso em Portugal, ou para ser mais preciso do 1.º mapa que se conhece representando Portugal - publicado em Roma em 1561. Turquel já aparece no 1.º Mapa de Portugal (Séc. XVI) de Fernando Alvares Seco. Por mera curiosidade e se percorrermos o mapa, nele identificamos muitas das terras que nos circundam e que na época já existiam. Pederneira já com a ortografia actual. Alfeizirao hoje Alfeizerão. Sali hoje Salir do Porto. Ascelas hoje Cela. Ascaldas hoje Caldas da Rainha. Altobaca hoje Alcobaça. Besteira hoje Vestiaria. Alijbaroca hoje Aljubarrota. Pedris hoje Alpedriz. Truquel hoje Turquel.



MEMÓRIA – As Misericórdias com séculos de história tiveram um papel importante em vários locais e em muitas antecedeu-as a Irmandade responsável pela construção das Igrejas da Misericórdia nesses mesmos lugares. A Irmandade era constituída por um número significativo de irmãos com atitudes cristãs que actuava junto dos pobres, presos, doentes e apoiava os chamados “envergonhados”. Esta socorria todos os necessitados “dando pousada, roupas, alimentos, medicamentos ou mezinhas” e tinha também uma importante intervenção a nível religioso, presente nas orações, na celebração de missas e procissões, nas cerimónias de enterros, no acompanhamento de condenados à morte ou na promoção da penitência. A ideia de acabar com algumas das Misericórdias foi do Marquês de Pombal em 1775. O secretário de Estado do Rei D. José I ordenou que todas as Misericórdias que integravam os Coutos de Alcobaça se unissem na de Alcobaça. E assim as antigas Misericórdias de Aljubarrota, Alvorninha, Cela, Santa Catarina, Turquel, Évora, Maiorga, Cós e Pederneira foram absorvidas pela Misericórdia de Alcobaça. Dizia o Marquês de Pombal que aquelas Misericórdias eram pequenas e não tinham meios de subsistência. Já no reinado de D. Maria I, em 1779, algumas Misericórdias exigiram a autonomização de Alcobaça, que foi concedida apenas a Aljubarrota e Pederneira. A preciosa documentação avulsa e os seus belos livros, de todas estas misericórdias, alguns em pergaminho (pele de animais nas capas e papel), ainda que desgastados e amarelados pelas centenas de anos, estão hoje no rico e valioso acervo secular do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça. Este vasto espólio está a ser alvo neste momento de um processo de organização, inventariação e catalogação pelo professor universitário e especialista da Ordem de Cister em Portugal, Gérard Leroux, contratado pela instituição. É de valorizar!

In: OAlcoa Por: Acácio Ribeiro

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