quinta-feira, 4 de março de 2010

Lendas de Moiras Encantadas

Eu vou contar uma lenda


Que a minha avó me contava

Porque um dia lhe apareceu

Uma linda moira encantada



Era lá na Serra D`Aire

Que essa Moira morava

E prendia o coração

A quem por ali passava



Presa na sua “covinha”

Cantava de noite e dia

Fazia os seus pedidos

Mas com muita alegria



Pedia uma roupinha

P`ra mudar de vez em quando

Mas não sabia falar

Pedia sempre cantando



Numa manhã bem cinzenta

Não se via o céu azul

Abandonou a “covinha”

Foi para terras do Sul



Era com muita saudade

Que eu por ali passava

Às vezes punha-me a escutar

Mas já não ouvia nada



E aqui fica a lenda

Que eu tanto gostava de ouvir

E que a minha avó querida

Não se importava repetir



Ela também me contava

Que uma morou em Turquel

Muito bem escondidinha

Sem fazer grande “granel”



Perto da Fonte da Granja

Em tempos que já lá vão

Aparecia a pentear-se

Na manhã de S. João



E eu dizia à minha avó

“Nunca a viu lá na “fontinha?”

E ela me respondia

“Não! Estava escondidinha”



Depois de tanto insistir

Sentadinha à lareira

Lá me contava mais uma

Nunca sentia canseira



“Só te vou contar mais esta

Mas não vais ficar com medo

A seguir vais-te deitar

Tens que te levantar cedo”



Eu ficava logo a rir

Porque tinha conseguido

Que me contasse mais uma

Era o que eu tinha pedido



Havia duas pastoras

A guardar os seus rebanhos

Brincavam às apanhadas

E riam risos tamanhos



P`ró Cabeço de Turquel

Elas iam muitas vezes

Chegavam a encontrar-se

Lá com alguns camponeses



Um dia quando passavam

Ali perto duma “Cova”

Apareceu-lhes uma Moira

Que não era muito nova



Ficaram um pouco assustadas

Essas duas “pastorinhas”

A Moira fez-lhe um pedido

E ficaram amiguinhas



“Porque tenho muita fome

Tragam-me leite e pão sem sal

Um dia as recompensarei

Comigo não ficam mal”



E a partir desse dia

Sem dizer nada a ninguém

Levavam-lhe sempre o leite

E o pão sem sal também



Muito grata essa Moira

De tanta consideração

Dois potes lhes ofereceu

Como forma de gratidão



Mas fez-lhe logo um pedido

E tinham de confirmar

Que não o iam abrir

Antes das três luas passar



Mas uma dessas pastoras

Não conseguiu esperar

E ao destapar o pote

Terra foi encontrar



A outra com muita calma

Não destapou o tesouro

Deixou passar as três luas

E encontrou moedas de ouro



Ficou a primeira a chorar

Por ter sido apressada

Ela que tudo queria

Acabou por não ter nada



Diz o povo e tem razão

“Porta-te bem senão pecas”

E “as galinhas apressadas

Tiram os pintos carecas”



Ia para a cama feliz

E às vezes até a rir

Nunca mais as esqueci

Ficaram em mim a florir



Hoje gosto de as contar

E conto-as com carinho

Seja a velhinho ou criança

Dou-lhe sempre um “jeitinho”



Por isso digo aos avós

E digo sempre sem medo

Uma lenda ou uma história

Pode substituir um brinquedo.



Estas lendas estão gravadas num CD que saiu no festival “Terra Mágica das Lendas” em Setembro de 2007.



De: Áurea da Mata

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