Eu vou contar uma lenda
Que a minha avó me contava
Porque um dia lhe apareceu
Uma linda moira encantada
Era lá na Serra D`Aire
Que essa Moira morava
E prendia o coração
A quem por ali passava
Presa na sua “covinha”
Cantava de noite e dia
Fazia os seus pedidos
Mas com muita alegria
Pedia uma roupinha
P`ra mudar de vez em quando
Mas não sabia falar
Pedia sempre cantando
Numa manhã bem cinzenta
Não se via o céu azul
Abandonou a “covinha”
Foi para terras do Sul
Era com muita saudade
Que eu por ali passava
Às vezes punha-me a escutar
Mas já não ouvia nada
E aqui fica a lenda
Que eu tanto gostava de ouvir
E que a minha avó querida
Não se importava repetir
Ela também me contava
Que uma morou em Turquel
Muito bem escondidinha
Sem fazer grande “granel”
Perto da Fonte da Granja
Em tempos que já lá vão
Aparecia a pentear-se
Na manhã de S. João
E eu dizia à minha avó
“Nunca a viu lá na “fontinha?”
E ela me respondia
“Não! Estava escondidinha”
Depois de tanto insistir
Sentadinha à lareira
Lá me contava mais uma
Nunca sentia canseira
“Só te vou contar mais esta
Mas não vais ficar com medo
A seguir vais-te deitar
Tens que te levantar cedo”
Eu ficava logo a rir
Porque tinha conseguido
Que me contasse mais uma
Era o que eu tinha pedido
Havia duas pastoras
A guardar os seus rebanhos
Brincavam às apanhadas
E riam risos tamanhos
P`ró Cabeço de Turquel
Elas iam muitas vezes
Chegavam a encontrar-se
Lá com alguns camponeses
Um dia quando passavam
Ali perto duma “Cova”
Apareceu-lhes uma Moira
Que não era muito nova
Ficaram um pouco assustadas
Essas duas “pastorinhas”
A Moira fez-lhe um pedido
E ficaram amiguinhas
“Porque tenho muita fome
Tragam-me leite e pão sem sal
Um dia as recompensarei
Comigo não ficam mal”
E a partir desse dia
Sem dizer nada a ninguém
Levavam-lhe sempre o leite
E o pão sem sal também
Muito grata essa Moira
De tanta consideração
Dois potes lhes ofereceu
Como forma de gratidão
Mas fez-lhe logo um pedido
E tinham de confirmar
Que não o iam abrir
Antes das três luas passar
Mas uma dessas pastoras
Não conseguiu esperar
E ao destapar o pote
Terra foi encontrar
A outra com muita calma
Não destapou o tesouro
Deixou passar as três luas
E encontrou moedas de ouro
Ficou a primeira a chorar
Por ter sido apressada
Ela que tudo queria
Acabou por não ter nada
Diz o povo e tem razão
“Porta-te bem senão pecas”
E “as galinhas apressadas
Tiram os pintos carecas”
Ia para a cama feliz
E às vezes até a rir
Nunca mais as esqueci
Ficaram em mim a florir
Hoje gosto de as contar
E conto-as com carinho
Seja a velhinho ou criança
Dou-lhe sempre um “jeitinho”
Por isso digo aos avós
E digo sempre sem medo
Uma lenda ou uma história
Pode substituir um brinquedo.
Estas lendas estão gravadas num CD que saiu no festival “Terra Mágica das Lendas” em Setembro de 2007.
De: Áurea da Mata
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