quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quando eu era pequenita

Quando eu era pequenita

Bem me lembro de ir à fonte

Com uma bilha à cabeça

Ao poço perto do monte



Trazia água p´ra beber

E também p´ra nos lavar

Era sempre uma canseira

Com a bilha a carregar



Até p´ró gado beber

A tinha de ir buscar

Por isso nada de estragos

Era sempre a poupar!!!



Mais tarde meu pai pensou

Então um poço fazer

Deixei de ir buscar água

Com a bilha p´ra beber



No dia em que tive água

Que desse poço jorrou

A alegria foi tanta

Que do meu peito brotou



Meu pai comprava galinhas,

Ovos, coelhos também…

Mas tinha uma grande mulher

A minha querida mãe



Ainda me lembro bem

De atrás dela andar

Com uma cesta pequenina

Para a poder ajudar



Chegava a casa cansada

De tão longe caminhar

Mas mal largava a cesta

Ia p´ró campo trabalhar



Muito trabalho de campo

Muito para semear

Muita rega p´ra fazer

Batatas para sachar



Eu também a ajudava

Quando saía da escola

No caminho ia brincando

Dando chutos numa bola



E ao chegar junto dela

Tantas vezes bem sozinha

Pedia-me logo ajuda

Isto era eu bem novinha



Sol-posto vinha p´ra casa

E se tinha trabalhos da escola

Ali há luz do candeeiro

Pegava em minha sacola



Os anos foram passando

Nesta faina sem parar

E eu ao meu pai pedindo

Para me deixar estudar



“Isso é que não pode ser”

E muita coisa argumentava

Que a mim não me convencia

E às escondidas chorava



Ao domingo ia à missa

No caminho namorava

Sempre sem meu pai saber

Senão mais me chateava



Mas aquilo que pior

Me podia acontecer

Era não ir aos bailaricos

Ficar em casa a sofrer



Minhas amigas todas iam

Com os pais a acompanhar

Mas meu não me deixava

Podiam-me machucar



Naquele tempo era assim

Agora é bem diferente

Mas cá vamos caminhando

E andando para a frente.



De: Áurea da Mata

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